História da Freguesia
Lendas
FREGUESIA DE BOIDOBRA
A quatro quilómetros da sede do concelho, a freguesia da Boidobra está situada na margem direita do rio Zêzere. As suas origens remontam ao século XII.
Foi elevada à categoria de vila em 20 de Maio de 1993.
Embora não referenciada nas Inquirições de 1258, por ser foreira à Coroa e à Covilhã, crê-se que algum senhorio ali tivesse bens ou, pelo menos, fosse Padroado da Igreja de Santo André, uma vez que, depois do Séc. XII e, certamente, por doação, aparece como curato da apresentação do Mosteiro de Lorvão. Segundo a Estatística Paroquial de 1864, a apresentação era do Convento de S. Bernardo, de Coimbra.
Segundo uma versão inserida num dicionário corográfico existente na Biblioteca Nacional de Lisboa, a povoação é antiquíssima cujo nascimento se perde na noite dos tempos, data do princípio da Nacionalidade Portuguesa cujo o nome adiante se descreve.
- "Em tempos muito remotos num lugar chamado Quinta da Abadia, existiam os celeiros de uma das guardas avançadas da Ordem de Malta".
Nessa altura, andava em construção o edifício da referida abadia e para transportar as pedras para a construção era necessário o auxílio de juntas de bois, que transportavam essas pedras por zorras. Acontece entretanto que as pessoas começaram por chamar-lhe "Boi - da - Obra".
Com o andar dos tempos, essa palavra sofreu transformação e deu origem à palavra "Boi - D` - Obra".
Esta mesma palavra acaba mais tarde por sofrer a sua modificação e uniu-se ou ligou-se, formando a palavra Boidobra, nome desta povoação.
O Dr. Alexandre Carvalho Costa em Lendas, Historietas e Etimologias das Cidades, Vilas, Aldeias e Lugares de Portugal Continental diz: " A origem do nome da localidade é explicada, de certo modo, pela Lenda mas pensa-se ser pura invenção explicativa do nome. Estudos mais profundos apontam para coisa diferente. No nº17 da Revista Lusitana, (s/d) escreve o ilustre filólogo, Dr. Joaquim da Silveira, um substancioso artigo, de que se destaca:
"Dos primitivos nomes terminados em briga provirão, porventura, na maior parte senão todos, os topónimos terminados em BRA / BRIA.
Boidobra, freguesia do concelho da Covilhã, tem a mesma grafia já nos Sécs. XII e XIV. Comparo este nome a Bodobrica ou Boudobriga, ópido (fortificação) germânico sobre o Reno na época romana.
A primeira parte deste topónimo contém talvez os nomes pessoais célticos Boduus ou Boudius, que figuram nas inscrições (Dr. J. c. Vasconcelos - Religiões II) (s/d).
De "O Culto de N. Sr.ª na Diocese da Guarda" (1948), autor Padre José Quelhas Bigotte, transcrevemos com adaptações o seguinte: "Na Igreja desta freguesia, do lado da epístola, está o altar de N. Sr.ª do Rosário, estilo D. João V feito há quarenta anos. Sem altar próprio está uma imagem de N. Sr.ª de Fátima, escultura de Ferreira Thedim e oferecida em 1932 por D. Idumeia Duarte Teixeira".
À distância dum quarto de hora, para nascente, encontra-se, junto do Zêzere, a histórica capelinha de N. Sr.ª da Estrela, sita na Quinta da Abadia. A tradição popular diz que fora construída por Egas Moniz e atribui a fundação à história que os pregadores referiam, há quarenta anos, sempre no sermão da festa: " na conquista do território aos Mouros, os terrenos marginais do Zêzere eram incultos e cobertos de matagais. Onde a caça abundava. Aqui viera caçar Egas Moniz e precisamente no sítio da capela fora surpreendido por um animal feroz, chamado Pampano, com o qual travou combate. Vendo-se perdido, invocou Nossa Senhora de quem era muito devoto, prometendo erguer-lhe uma capela se Ela o livrasse da fera. Como saiu ileso, cumpriu o voto, fundando a capela e dando-lhe o nome de N. Sr.ª da Estrela, por ter sido liberto alta manhã quando a estrela de alva estava luzente no céu". Posteriormente, à fundação da capela, foi construído, à retaguarda, um convento de frades bernardos, segundo dizem os antigos.
A Festa de N. Sr.ª da Estrela é celebrada no Domingo mais próximo do dia 8 de Setembro e antigamente era no dia da Natividade. Tempos houve em que da Covilhã vinha imensa gente, chegando mesmo a fechar as fábricas. O "Santuário Mariano" escreve: "É obrigada a Câmara da Covilhã a ir por voto visitar a senhora todos os anos em certo dia, por a acção de um grande favor que recebeu". O mesmo livro refere que o mosteiro fora fundado por ordem de Egas Moniz e executado por seu filho D. Lourenço. Com os anos ruiu por completo "até que D. Mendo, Abade de Maceiradão, com licença do Bispo de Coimbra, em cuja Diocese fica, o restaurou ou fundou de novo no ano de 1220".
Do património de Boidobra, destaca-se ainda a igreja paroquial. Construída no século XVI, tem o altar-mor em talha dourada e em estilo barroco.
A Boidobra actualmente, tem no seu perímetro geográfico novas obras de desenvolvimento e de saúde. Referimo-nos ao futuro Parque Desportivo, ao Hospital Cova da Beira e vários restaurantes (Cá-te-Espero, Pinheiro, Quinta Nova, Chinês, Verdinho etc).
Em termos de crescimento populacionais, os Censos 2001 revelam-nos que a Boidobra cresceu 51%. A Boidobra é actualmente das 31 freguesias do concelho a quinta maior em população.
Vários factores têm contribuído para o seu forte desenvolvimento. Devido à industrialização do concelho da Covilhã, a população da Boidobra deixou de trabalhar a terra para se dedicar à indústria de lanifícios. Na Boidobra estão sediadas algumas das principais fábricas. Consequentemente, apareceu uma nova profissão a das chamadas metedeiras-de-fios. Os tecidos que os teares produzem são, por vezes, imperfeitos, havendo por isso necessidade de os "corrigir". É aqui que entram em acção as mulheres que tem como tarefa substituir os fios defeituosos.
A par da indústria também o comércio representa uma das principais fontes de rendimento da população. O pequeno e grande comércio (armazéns de revenda, hipermercado e centro comercial) ocupam um número significativo de mão de obra.
Lenda 1
Boidobra segundo uma versão do Dicionário Orográfico da Biblioteca Nacional de Lisboa
«A Boidobra, povoação antiquíssima cujo nascimento se perde na noirte dos tempos, data do princípio da Nacionalidade Portuguesa cujo nome adiante se descreve.
Em tempos muito remotos, num lugar chamado “Quinta da Abadia”, existiam os celeiros de uma das guardas avançadas da “Ordem de Malta”. Nessa altura andava em construção o edifício da referida abadia, e para transportar as pedras para a construção era necessário o auxílio de juntas de bois, que transportavam essas pedras por zorras. Entretanto as pessoas do lugar começavam a reconhecer os bois por “Bois-da-Obra”.
Com o andar dos tempos, a designação sofreu transformações e deu origem à palavra “Boi d' obra”. Esta mesma palavra acaba, mais tarde, por sofrer a sua modificação, e uniu-se ou ligou-se, formando a palavra Boidobra, nome desta povoação.»
Lenda 2
Boidobra segundo a tradição oral
«Da torre sineira da Igreja de Santo André pendia uma corda que o sacristão atara ao badalo do sino maior afim de evitar a subida da escadaria para o toque das “ave-marias”.
Terminada essa corda por argola ou aselha, na qual, certo dia, um boi que por ali passava, enfiou um dos cornos. Sentindo-se preso, o animal puxou insistentemente a corda, o que obrigou o sino a dobrar. E logo alguns moradores do lugar exclamavam: “Boi dobra!”.
Supondo, talvez, o caso um milagre dos céus nada mais foi preciso para que dali em diante, toda a gente da terra passasse a chamar Boidobra à pequeníssima povoação de Santo André, do concelho da Covilhã. »